sábado, 26 de julho de 2014

Índia: Varanasi, na rota sagrada!


Nossa para seguinte na Índia, após uma rápida passagem pela capital, foi a cidade mais sagrada para os indianos e uma das 7 cidades sagradas do hinduísmo, que também é sagrada para o budismo e para o sikhismo...ou seja, mal comparando, é uma espécie de Jerusalém dos povos seguidores das "religiões orientais" : Varanasi. Além da, digamos, curiosa e diferente capital mística do país, tivemos uma rápida passagem por uma pequena vila no interior do país (quando se diz "pequena vila" na Índia, entenda-se um local com, no mínimo, uns 50 mil habitantes), um local tranquilo, antigo reinado de um marajá que hoje empresta seu palácio a quem quiser passar umas noites em algum dos aposentos reais e curtir a calma desta região montanhosa, as ruínas de seu castelo no alto do morro e as belas paisagens do alto de suas dunas.


Após uma longa jornada de cerca de 14 horas de trem partindo de Déli (descritas no post De trem pela Índia : uma experiência (in)esquecível!), chegamos à cidade sagrada para as 3 principais religiões do país : Varanasi! Hinduístas, Budistas e Sikhistas têm aqui um importante centro de peregrinação. A cidade, segundo os hinduístas, foi construída por Shiva e tem seu principal templo por lá. É sagrada também para os budistas, pois foi lá que viveu durante muito tempo Sidarta Gautama, o "buda supremo da nossa era" (segundo a religião), e onde fez sua primeira pregação. Para os Sikhs, é o local onde grande parte dos escritos do livro sagrado, chamado Guru Grath Sahib, foram colhidos pelo fundador da religião, o Guru Nanak Dev.

O nome da cidade, que é conhecida também por Benares ou Kashi, tem origem na fusão dos nomes de 2 rios importantes da cidade e que são tributários do famoso e sagrado Ganges : Varuna e Assi. O Varuna ainda está lá, o Assi, hoje em dia, nada mais é que um córrego, onde fica o Assi Gath, uma espécie de "porto", onde ficam os barcos que saem para as "procissões" e aquelas famosas escadarias às margens do rio onde os fiéis vão para se banhar, beber suas águas e "purificar-se". Coloquei a palavra purificar entre aspas porque não acho que aquela água, com mil vezes mais coliformes fecais que a água de um rio comum, seja propriamente purificadora... não pelo menos para quem não segue uma daquelas religiões...


Varanasi é uma das 5 cidades mais antigas do mundo que sempre foram habitadas, desde a sua fundação, há cerca de 5000 anos atrás!!
Bom, as principais atrações da cidade giram em torno de seu principal "personagem" e expoente, o rio Ganges. Todos os principais templos e palácios, as principais cerimônias e rituais, acontecem ali, nas escadarias às suas margens. As famosas cremações são realizadas bem na base das escadarias, quando as cinzas dos corpos são atiradas no rio... quer dizer, se a família tiver recursos para uma, digamos, "cremação completa". Caso seja menos abastada, elas simplesmente ateiam fogo ao corpo e o atiram no rio daquele jeito mesmo, fazendo com que pedaços de corpo flutuando sejam uma cena comum no local...

 Infelizmente não pudemos fazer o principal e mais cênico passeio da cidade, o tour de barco pelo rio. Como passamos pela Índia na época das monções, o rio estava em seu nível máximo, impossibilitando as embarcações de circularem, por questão de segurança. Mesmo assim, pudemos ir por duas vezes ao Assi Gath e lá observamos a população local lavando suas roupas, bebendo e banhando-se nas águas sagradas, rezando ou simplesmente sentados nas escadarias e contemplando o movimento.

Mas a experiência mais interessante foi, sem dúvida alguma, a cerimônia que pudemos presenciar nas escadarias do templo de Assi Gath, às margens do Ganges. Todos começam a se concentrar nas escadarias no finalzinho da tarde, tomando o seu lugar, que em alguns minutos já estaria completamente tomado de indianos e turistas. Assim que escureceu, um rapaz , ao redor dos 20 e poucos anos, chegou carregando uma espécie de incensário e um sino, que tocava em ritmos regulares.

Parecia que estava em transe! Não piscava e em sua expressão facial não se via mover sequer um músculo. Ficava apenas movimentando o maço de incensos e tocando o sino, periodicamente. Enquanto isso, várias pessoas entoavam uma espécie de "hummmm" , outras ficavam simplesmente em silêncio, de olhos fechados, outros rezando, outros se purificando no rio, algumas crianças correndo e brincando... enfim, foi realmente uma experiência bem interessante! Na saída, todos recebiam um ponto de tinta vermelha no meio da testa, na região do que eles dizem ser o "terceiro olho", significando a união do consciente com o sub-consciente, que pode ser atingida através da meditação. Esse pontinho é chamado tilak.

Nesse dia tivemos a oportunidade de voltar para nosso hotel de tuk tuk... até aí, nenhuma novidade se não fosse pelo fato do nosso transporte não ter farol, não ter buzina, não ter retrovisor e estar com o vidro dianteiro quebrado! Ah, detalhe : era noite e o trânsito era o pior que encontramos em toda a viagem, até mesmo quando comparado ao Vietnã. O nosso motorista, que devia ter uns 70 anos de idade, simplesmente enfiava a cabeça para fora do tuk tuk e sabe-se lá como ia ultrapassando, um a um, pessoas, vacas, tuk tuks, carros e postes. Olha, essa foi a segunda vez na viagem que corremos um sério risco de não voltar para casa!

Ainda às margens do Ganges pudemos participar de mais outra cerimônia típica, o "Ganga Aarti". O Aarti é uma cerimônia em que o indiano agradece à deusa Ganga (que nada mais é que o próprio rio Ganges) a luz e sabedoria diariamente oferecidas. Para isso, são atiradas ao rio pequenas flores contendo uma vela em seu interior. Milhares delas são liberadas todos os dias, ao pôr-do-sol, formando um cenário belíssimo, com muita luz e cor. As flores são lançadas a partir de barcos, mas como eles ainda estavam impedidos de desancorar, fizemos o ritual a partir do atracadouro mesmo.


Já um pouco mais afastada da cidade de Varanasi, a cerca de 15 Km, fica cidade de Sarnath, famosa na Índia por ser sede das principais universidades religiosas do país e ser o local onde o buda Sidarta Gautama fez a sua primeira pregação. 

No local há um templo budista chinês em que a história do budismo na região é toda detalhada e explicada. Próximo a este local está uma reconstrução de um antigo e importante templo budista, o Mulgandh Kutti Vihar , que fica próximo a uma árvore sagrada que, reza a lenda, foi plantada com uma muda da árvore original, localizada em Bodh Gaya, onde o buda teve sua iluminação, há 2500 anos atrás. O templo tem ares de modernidade e seu interior não tem nada de espetacular, a não ser o calor insuportável abrandado por pequenos ventiladores ao longo na nave central. Ao lado do templo está a árvore sagrada, que oferecia, além de toda sua mística, uma boa e relaxante sombra!

A uns 200 metros dali está o monumento mais importante da cidade e um dos mais importantes do budismo em todo o mundo, a estupa de Dhamekh, que marca o local onde o buda Gautama fez a sua primeira pregação e, por isso, é local de intensa peregrinação budista no país. O monumento original era datado de, aproximadamente, 250 a.C. mas foi reconstruído em 500 d.C. 
Para finalizar o tour religioso pela região, visitamos um templo muito importante para outra religião de origem indiana e considerada uma das mais antigas do mundo, o jainismo. Nossa estadia em Varanasi terminou em um movimentado mercado de seda, onde a Pati pode adquirir belíssimas peças por um preço bem em conta!
E terminamos por aqui nossa passagem pela chuvosa, quente, úmida e mística Varanasi; agora é pegar novamente o trem e rumar em direção à atração turística mais famosa do país : Agra e o imponente Taj Mahal!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário