segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Top 10 cenários reais de filmes que visitamos

É muito comum usarmos a expressão "cenário de filme" para descrever lugares espetaculares, sejam eles belas praias, montanhas nevadas e cidades com iluminados arranha-céus. Pois bem, ao longo de nossa jornada ao redor do mundo, pudemos visitar cenários que realmente fizeram parte de famosos filmes e que despertaram fantasias em muita gente. Confira os eleitos para o nosso top 10:
Obs: todas as fotos são de nossa autoria

10) Tóquio - Japão : "Encontros e desencontros"

Cenário de inúmeros filmes e seriados de monstros, robôs e ninjas, a capital japonesa também foi muito bem retratada nesse belo filme com o ex-caça fantasmas Bill Murray. Cidade e filme imperdíveis!









09) Koh Phi Phi e Maya Bay - Tailândia : "A Praia"

O filme em si não é lá grande coisa, mas acabou ficando famoso entre os mochileiros de todo o mundo por mostrar as loucuras da capital Bangkok e as belas praias das ilhas do mar de Andaman. Ah, e as menininhas adoram o Leonardo di Caprio... Cenários realmente paradisíacos!!







08) Padang-Padang - Bali/Indonésia : "Comer, rezar e amar"

Baseado no livro de mesmo nome e com a estrela Julia Roberts, esta praia foi cenário de várias cenas do filme. Na verdade, os locais dizem que a maior parte das cenas foram filmadas em outra praia, mas foi esta que ficou mais famosa e é apresentada aos turistas como a "praia da Julia Roberts".







07) Las Vegas - Estados Unidos : "Se beber, não case I"

Poderíamos escolher inúmeros filmes que foram ambientados na capital mundial do entretenimento como exemplo, mas creio que o primeiro da trilogia dos amigos que fazem as coisas mais bizarras imagináveis após uma festa, representa bem o espírito desta cidade e aquilo que ela pode oferecer... o que acontece em Vegas, fica em Vegas!





06) Khao Phing Kan - Tailândia : "007 contra o homem da pistola de ouro"

A belíssima ilha ficou tão famosa por conta do filme, que hoje ninguém mais sabe seu nome original, tendo sido praticamente rebatizada como "Ilha James Bond".










05) Istambul - Turquia : "007 Operação Skyfall" e "Moscou contra 007"

A mais importante cidade turca é um dos cenários preferidos do principal espião britânico. Sean Connery em 1963 e Daniel Craig, em 2012, deram alguns tiros, perseguiram alguns criminosos e conquistaram belas mulheres por lá!







04) San Francisco - Estados Unidos : "X-Men: o Confronto final"

Novamente, poderíamos listar outros inúmeros filmes aqui ambientados, mas escolhemos este pelo insólito deslocamento da mais famosa ponte do país (ao lado da ponte do Brooklyn) de seu local natural até a famosa ilha presídio de Alcatraz, unindo os dois pontos mais marcantes da cidade... Surreal, mas uma excelente ideia!!






03) Dubrovnik - Croácia : "Game of Thrones"

Tá, tudo bem, sabemos que Game of Thrones é um seriado e não um filme, mas não tinha como não incluir a belíssima "Porto Real" nesta lista. Dubrovnik e suas muralhas formam o cenário perfeito para representar a capital do conflituoso império!








02) Angkor Wat/Siem Reap - Camboja : "Lara Croft : Tomb Raider"

Angelina Jolie deve ter passado um calor desgastante com aquele uniforme da heroína dos video-games, Lara Croft, nas matas do norte cambojana, em meio aos belíssimos templos daquele que é o maior complexo religioso do mundo!







01) Tikal - Guatemala : "Guerra nas Estrelas, episódio IV : Uma nova esperança"

George Lucas gostou tanto deste futurista cenário, construído pelos maias há mil anos atrás, que resolveu transformá-lo na base dos rebeldes. Foi para lá que retornaram para celebrar a destruição da estrela da morte! Só estando lá para entender que o diretor americano tinha toda razão!



domingo, 3 de agosto de 2014

Índia: Tordi Garh e Jaipur, percorrendo o Rajastão!


Após nossa aventura cruzando 30 Km na contra-mão de uma rodovia, pelo acostamento, chegamos a uma espécie de sítio, onde embarcamos em uma espécie de caminhonete coberta, muito apertada e com teto bem baixo, rumo aos nossos 2 últimos destinos no maior estado da Índia, o Rajastão : a pequena vila de Tordi Garh e a histórica (e turística) capital do estado, Jaipur.

Tordi Garh é uma pequena vila no interior do Rajastão. Veja bem, quando dizemos pequena vila indiana, estamos nos referindo a um local isolado, sem luz elétrica, com ruas do mais puro barro, vacas por todos os lados e, pelo menos, 50 mil pessoas! A vila se resume basicamente ao hotel, que na verdade é um antigo palácio, residência de um dos inúmeros descendentes da dinastia que governou o Rajastão por séculos e espalhou filhos e palácios por todo o território. O palácio já está descaracterizado, todo reformado para servir como hotel, não mantém quase nada do original a não ser algumas fotos e objetos dos antigos governantes locais.

Não há muito o que ver, nem o que fazer, por lá. Há algumas ruínas de uma fortaleza no alto da colina (que podem ser visitadas em um tour que sai às 05:00 da manhã...), outras ruínas de antigos palácios e construções da "época de ouro do local", visita a uma barragem e assistir ao por-do-sol do alto de uma duna, localizada atrás da colina, e que tem uma bela vista da planície. Além disso, oferecem um tour pela vila, visitando uma escola local e tendo contato com as pessoas na rua e, para terminar a "típica experiência indiana", as mulheres do grupo tiveram oportunidade de fazer uma típica tatuagem de rena... Claro que a Pati fez a sua.


Entramos novamente na caminhonete e rumamos ao nosso destino final na Índia, a cidade de Jaipur, capital do Rajastão e de um dos reinos mais ricos e tradicionais da Índia pré colonização inglesa. 

A cidade, conhecida como "cidade rosa" por conta da coloração de suas construções, é uma das mais turísticas da Índia. Não que isso signifique que ela é menos caótica ou mais limpa... na verdade a única diferença é que ela é ainda mais movimentada! Há inúmeros e belos palácios por todos os lados, fortalezas imponentes no alto das montanhas, templos belíssimos e as típicas construções rosadas do centro da cidade. A atração mais importante e mais visitada da cidade é a Fortaleza Âmbar, residência oficial da dinastia que governou a região durante séculos e que tem esse nome por conta de sua cor.

O palácio fica no alto de uma montanha e pode ser acessado pela longa rampa de acesso e escadas ou através de uma "cavalgada" no lombo de gigantescos e pacíficos elefantes indianos, que deixam aquele belo rastro de fezes por todo o caminho, tornando o cheiro do local bem característico. Logo na entrada há um enorme pátio, que dá acesso aos diversos salões e jardins, além dos inúmero quartos e pátios, sendo os mais famosos o pátio que contém um salão com diversas colunas e o salão dos espelhos. O local é realmente imponente e impressionante e de lá podemos avistar as grande muralhas que cercam a cidade e 3 outros fortes que se localizam em posições estratégicas, garantindo a segurança de toda a região.


Saindo de lá, eu e a Pati tivemos a disposição, ao longo de todo o dia, um tuk tuk para nos levar onde quiséssemos. Como não tivemos qualquer orientação de nossos guias das atrações mais interessantes para visitar naquele dia, pegamos o canhoto do ingresso do palácio (que continha as fotos dos principais atrativos) e apontamos 3 ou 4 atrações que achamos mais interessantes e mostramos ao nosso "motorista" que, para variar, não dominava muito o inglês...

O primeiro sítio que visitamos foi o Jal Mahal, um palácio localizado bem no meio de um lago e que não está aberto para visitas, já que passa por uma reforma para se tornar um grande hotel de luxo... Assim que saímos de lá, adivinhem? Claro, começou a chover, copiosamente... Como não dava para ver muita coisa com aquela chuva toda, pedimos ao nosso motorista que nos levasse para almoçar... no McDonalds!! Vocês podem achar estranha essa nossa escolha, mas depois de 15 dias só comendo comida vegetariana e curry, queríamos ao menos um gostinho de carne de frango (já que o McDonalds de lá não serve carne bovina nem suína).

Foi a pior escolha que poderíamos ter feito! Não pela comida, nuggets do McDonalds são iguais no mundo todo... mas pelas cenas tristes que presenciamos. Primeiramente, logo na entrada, um segurança com uma espécie de metralhadora não permitia que "qualquer um" entrasse, ou seja, se ele achasse que você não tem dinheiro para comer e que iria ficar lá dentro pedindo comida, não deixava sequer ficar perto da porta. Resultado, dezenas de crianças ficavam esfregando seus rostos nas janelas da loja, implorando por comida e recebendo toda a indiferença dos indianos locais mais privilegiados e que tiveram o "mérito" de não terem sido barrados na porta ou expulsos lá de dentro. Não preciso dizer que não conseguimos comer...


Já bem chateados com o que acabáramos de presenciar, mais a chuva, mais o cansaço e a saturação de 2 semanas de Índia, decidimos dar apenas um rolê rápido pelas outras atrações da cidade e voltar logo para o hotel.

Visitamos 3 locais : o primeiro foi o Albert Hall museum, um museu de arte indiana localizado em uma belo construção em estilo vitoriano, repleta de pombas, mas que não tivemos muito pique para visitar. O segundo local foi o Jantar Mantar, uma espécie de laboratório astronômico a céu aberto e que conta com um dos maiores relógios de sol do mundo. Ali ao lado ficava o Palácio da Cidade, mas acabamos não visitando. Para finalizar nosso tour, uma passada rápida em frente ao prédio mais famoso da cidade e presente em todos os cartões postais, o Hawa Mahal.
Bom, é isso aí, terminamos nosso tour pelo país mais controverso de toda a viagem, local de paisagens e monumentos exuberantes, mas também de muito sofrimento, injustiças e pobreza extrema. Não tem como sair de uma viagem dessas sem algum sentimento; você pode amar ou odiar a Índia, mas jamais vai sair indiferente!! Agora, rumo à Turquia!!


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Índia : Agra, muito além do Taj Mahal!


E finalmente, após mais 12 duras e intermináveis horas de trem, chegamos ao nosso principal objetivo nesta viagem à Índia : conhecer o Taj Mahal! Mas Agra (a cidade onde fica o monumento) não é só a sede do mais famoso mausoléu do planeta, a cidade tem muitos outros belos templos e a imponente Fortaleza Vermelha. A cidade mais turística do país foi realmente uma boa surpresa e não nos decepcionou!

Bom, comecemos logo pelo principal. Desde que planejamos a volta ao mundo, a Índia entrou em nossos planos desde o princípio e a razão para isto era, principalmente, uma das 7 maravilhas do mundo moderno, o Taj Mahal! A história dele já é bem conhecida, mas a "versão" que ouvimos não foi tão romântica assim. O tal rei, chamado Shah Jahan, realmente construiu o mausoléu em homenagem à sua amada esposa Mumtaz Mahal... a preferida (segundo consta) das suas 3 esposas na época (depois desta teve ainda mais seis...).

Mumtaz Mahal (este na verdade não era seu nome, era apenas um apelido, que quer dizer "joia do palácio") estava grávida de seu décimo quarto filho quando o rei resolveu partir em uma aventura (dizem as más línguas, amorosa...) e, mesmo sabendo que sua esposa estava muito doente pela gravidez, decidiu não retornar naquele momento. Bom, resumindo a novela, Mumtaz morreu durante o parto, sem a presença do rei, o que fez com que ele ficasse louco de remorso e mandasse trazer o melhor arquiteto da Pérsia na época para construir um grande mausoléu em mármore branco para sua amada... e um em mármore negro para ele, claro, que ficaria do outro lado do rio.

Contudo, o seu mausoléu acabou não sendo construído, já que foi deposto do trono por seus filhos e enclausurado na Fortaleza Vermelha, de onde acompanhou a construção do Taj Mahal pelos mosaicos da janela de seu quarto. Reza a lenda também que o arquiteto do projeto foi "convidado" pelo rei a nunca mais sair do país e não fazer mais nenhum projeto pelo resto de sua vida, em troca de muito dinheiro e mordomias... Não acredito que ele tenha recusado... Mas o complexo do Taj Mahal não é "só" o fantástico mausoléu.

A primeira coisa que vemos, assim que adentramos no complexo, é o grande portão principal de entrada, com sua dúzia de cúpulas e detalhes sempre com a temática da arquitetura islâmica persa, com versos do corão transcritos, assim como acontece na entrada do Taj Mahal, que além destes elementos islâmicos, tem também vários símbolos hindus, mostrando o grande sincretismo que existe no país. Atravessando o portão de entrada há um enorme e muito bem cuidado jardim, completamente simétrico (como tudo por lá, aliás) com grande espelho d'água no meio. No meio do caminho entre o portão e o Taj Mahal, temos dois mausoléus menores, onde estão outras esposas do rei.


Bem ao lado do mausoléu principal, encontramos mais dois imponentes prédios idênticos. Um deles, uma mesquita, o outro, supõem-se que tenha sido uma hospedaria. A diferença entre eles é mínima mas importantíssima : a mesquita tem minarete, o outro prédio, não. O próprio Taj Mahal não é perfeitamente simétrico, já que a tumba do rei não tem o mesmo tamanho que o da sua amada...

Agora chega de Taj Mahal, vamos para a segunda principal atração da cidade, a Fortaleza Vermelha de Agra! Morada de vários e importantes imperadores, é um palácio imponente e belíssimo, repleto de jardins internos completamente simétricos, vários salões e centenas de quartos. Lá pudemos ver os aposentos onde o rei Shah Jahan passou seus últimos dias enquanto via a obra de sua vida sendo construída, do outro lado do rio, por diferentes mosaicos presentes nas belíssimas janelas.

Agra, por ser a mais turística das cidades indianas, tem uma estrutura um pouco melhor que as outras que visitamos, com avenidas mais largas, bons hotéis e um pouco menos de sujeira ou bagunça... mas calma, você ainda está na Índia e as vacas continuam pelas ruas, bem como os tuk tuks e carros sem retrovisor! Aliás, por falar em trânsito maluco, desta vez nosso meio de transporte para a cidade seguinte não foi o trem e sim um ônibus de linha regular indiano... mais uma das "experiências típicas" que nosso guia quis que experimentássemos.

Não vamos dizer que foi uma experiência muito diferente. O ônibus era bem velho e desconfortável, mas até aí, aqui no Brasil, já tive oportunidade de andar em veículos do mesmo "porte". O grande problema foi o que aconteceu quando estávamos próximos ao nosso destino! O local em que o ônibus ia nos deixar ficava do outro lado da rodovia, mas a pista em que viajávamos era separada da outra por uma alta mureta. Ocorre que, em um dado momento, surgiu uma pequena brecha nessa mureta, suficiente para passar um ônibus, e nosso motorista simplesmente passou para a outra pista e, por mais de 30 Km, dirigiu no acostamento, na contra-mão e em alta velocidade, apertando a buzina a cada 2 segundos como se ninguém que estava vindo na direção contrária estivesse nos vendo!! Experiências assustadoras no trânsito indiano não faltaram nesta viagem, mas esta, sem dúvida alguma, ganhou de longe das outras! Enfim, chegamos sãos e salvos em nossa próxima cidade, a pacata vila de Tordi Garh... mas este já é assunto para o próximo post!! Até lá!


sábado, 26 de julho de 2014

Índia: Varanasi, na rota sagrada!


Nossa para seguinte na Índia, após uma rápida passagem pela capital, foi a cidade mais sagrada para os indianos e uma das 7 cidades sagradas do hinduísmo, que também é sagrada para o budismo e para o sikhismo...ou seja, mal comparando, é uma espécie de Jerusalém dos povos seguidores das "religiões orientais" : Varanasi. Além da, digamos, curiosa e diferente capital mística do país, tivemos uma rápida passagem por uma pequena vila no interior do país (quando se diz "pequena vila" na Índia, entenda-se um local com, no mínimo, uns 50 mil habitantes), um local tranquilo, antigo reinado de um marajá que hoje empresta seu palácio a quem quiser passar umas noites em algum dos aposentos reais e curtir a calma desta região montanhosa, as ruínas de seu castelo no alto do morro e as belas paisagens do alto de suas dunas.


Após uma longa jornada de cerca de 14 horas de trem partindo de Déli (descritas no post De trem pela Índia : uma experiência (in)esquecível!), chegamos à cidade sagrada para as 3 principais religiões do país : Varanasi! Hinduístas, Budistas e Sikhistas têm aqui um importante centro de peregrinação. A cidade, segundo os hinduístas, foi construída por Shiva e tem seu principal templo por lá. É sagrada também para os budistas, pois foi lá que viveu durante muito tempo Sidarta Gautama, o "buda supremo da nossa era" (segundo a religião), e onde fez sua primeira pregação. Para os Sikhs, é o local onde grande parte dos escritos do livro sagrado, chamado Guru Grath Sahib, foram colhidos pelo fundador da religião, o Guru Nanak Dev.

O nome da cidade, que é conhecida também por Benares ou Kashi, tem origem na fusão dos nomes de 2 rios importantes da cidade e que são tributários do famoso e sagrado Ganges : Varuna e Assi. O Varuna ainda está lá, o Assi, hoje em dia, nada mais é que um córrego, onde fica o Assi Gath, uma espécie de "porto", onde ficam os barcos que saem para as "procissões" e aquelas famosas escadarias às margens do rio onde os fiéis vão para se banhar, beber suas águas e "purificar-se". Coloquei a palavra purificar entre aspas porque não acho que aquela água, com mil vezes mais coliformes fecais que a água de um rio comum, seja propriamente purificadora... não pelo menos para quem não segue uma daquelas religiões...


Varanasi é uma das 5 cidades mais antigas do mundo que sempre foram habitadas, desde a sua fundação, há cerca de 5000 anos atrás!!
Bom, as principais atrações da cidade giram em torno de seu principal "personagem" e expoente, o rio Ganges. Todos os principais templos e palácios, as principais cerimônias e rituais, acontecem ali, nas escadarias às suas margens. As famosas cremações são realizadas bem na base das escadarias, quando as cinzas dos corpos são atiradas no rio... quer dizer, se a família tiver recursos para uma, digamos, "cremação completa". Caso seja menos abastada, elas simplesmente ateiam fogo ao corpo e o atiram no rio daquele jeito mesmo, fazendo com que pedaços de corpo flutuando sejam uma cena comum no local...

 Infelizmente não pudemos fazer o principal e mais cênico passeio da cidade, o tour de barco pelo rio. Como passamos pela Índia na época das monções, o rio estava em seu nível máximo, impossibilitando as embarcações de circularem, por questão de segurança. Mesmo assim, pudemos ir por duas vezes ao Assi Gath e lá observamos a população local lavando suas roupas, bebendo e banhando-se nas águas sagradas, rezando ou simplesmente sentados nas escadarias e contemplando o movimento.

Mas a experiência mais interessante foi, sem dúvida alguma, a cerimônia que pudemos presenciar nas escadarias do templo de Assi Gath, às margens do Ganges. Todos começam a se concentrar nas escadarias no finalzinho da tarde, tomando o seu lugar, que em alguns minutos já estaria completamente tomado de indianos e turistas. Assim que escureceu, um rapaz , ao redor dos 20 e poucos anos, chegou carregando uma espécie de incensário e um sino, que tocava em ritmos regulares.

Parecia que estava em transe! Não piscava e em sua expressão facial não se via mover sequer um músculo. Ficava apenas movimentando o maço de incensos e tocando o sino, periodicamente. Enquanto isso, várias pessoas entoavam uma espécie de "hummmm" , outras ficavam simplesmente em silêncio, de olhos fechados, outros rezando, outros se purificando no rio, algumas crianças correndo e brincando... enfim, foi realmente uma experiência bem interessante! Na saída, todos recebiam um ponto de tinta vermelha no meio da testa, na região do que eles dizem ser o "terceiro olho", significando a união do consciente com o sub-consciente, que pode ser atingida através da meditação. Esse pontinho é chamado tilak.

Nesse dia tivemos a oportunidade de voltar para nosso hotel de tuk tuk... até aí, nenhuma novidade se não fosse pelo fato do nosso transporte não ter farol, não ter buzina, não ter retrovisor e estar com o vidro dianteiro quebrado! Ah, detalhe : era noite e o trânsito era o pior que encontramos em toda a viagem, até mesmo quando comparado ao Vietnã. O nosso motorista, que devia ter uns 70 anos de idade, simplesmente enfiava a cabeça para fora do tuk tuk e sabe-se lá como ia ultrapassando, um a um, pessoas, vacas, tuk tuks, carros e postes. Olha, essa foi a segunda vez na viagem que corremos um sério risco de não voltar para casa!

Ainda às margens do Ganges pudemos participar de mais outra cerimônia típica, o "Ganga Aarti". O Aarti é uma cerimônia em que o indiano agradece à deusa Ganga (que nada mais é que o próprio rio Ganges) a luz e sabedoria diariamente oferecidas. Para isso, são atiradas ao rio pequenas flores contendo uma vela em seu interior. Milhares delas são liberadas todos os dias, ao pôr-do-sol, formando um cenário belíssimo, com muita luz e cor. As flores são lançadas a partir de barcos, mas como eles ainda estavam impedidos de desancorar, fizemos o ritual a partir do atracadouro mesmo.


Já um pouco mais afastada da cidade de Varanasi, a cerca de 15 Km, fica cidade de Sarnath, famosa na Índia por ser sede das principais universidades religiosas do país e ser o local onde o buda Sidarta Gautama fez a sua primeira pregação. 

No local há um templo budista chinês em que a história do budismo na região é toda detalhada e explicada. Próximo a este local está uma reconstrução de um antigo e importante templo budista, o Mulgandh Kutti Vihar , que fica próximo a uma árvore sagrada que, reza a lenda, foi plantada com uma muda da árvore original, localizada em Bodh Gaya, onde o buda teve sua iluminação, há 2500 anos atrás. O templo tem ares de modernidade e seu interior não tem nada de espetacular, a não ser o calor insuportável abrandado por pequenos ventiladores ao longo na nave central. Ao lado do templo está a árvore sagrada, que oferecia, além de toda sua mística, uma boa e relaxante sombra!

A uns 200 metros dali está o monumento mais importante da cidade e um dos mais importantes do budismo em todo o mundo, a estupa de Dhamekh, que marca o local onde o buda Gautama fez a sua primeira pregação e, por isso, é local de intensa peregrinação budista no país. O monumento original era datado de, aproximadamente, 250 a.C. mas foi reconstruído em 500 d.C. 
Para finalizar o tour religioso pela região, visitamos um templo muito importante para outra religião de origem indiana e considerada uma das mais antigas do mundo, o jainismo. Nossa estadia em Varanasi terminou em um movimentado mercado de seda, onde a Pati pode adquirir belíssimas peças por um preço bem em conta!
E terminamos por aqui nossa passagem pela chuvosa, quente, úmida e mística Varanasi; agora é pegar novamente o trem e rumar em direção à atração turística mais famosa do país : Agra e o imponente Taj Mahal!!


terça-feira, 22 de julho de 2014

De trem pela Índia : uma experiência (in)esquecível !!


Antes mesmo de iniciar nossa viagem, ainda na fase de planejamento, decidimos que iríamos visitar a maior parte dos países por conta própria. Várias razões justificavam essa decisão : uma maior oportunidade de penetrar com mais profundidade na cultura local, mais liberdade para ficar o tempo que quiséssemos em um local interessante, ou menos em um que não nos agradasse, economia de fundos, enfim, só víamos vantagens na "viagem solo" em uma turnê tão longa. 


Mas toda regra tem sua exceção e a Índia, por tudo que ouvíramos falar a respeito antes da nossa viagem começar, era um país que faria parte deste grupo! Seja quem amou, seja quem odiou o país, era unânime em afirmar que se deslocar por este imenso país sem o suporte de algum "local" ou de uma agência especializada era pedir para ter dor de cabeça. Sendo assim, contratamos um tour nestas 2 semanas em território indiano. Nosso espírito aventureiro restante, entretanto, não nos permitiu contratar um tour tradicional, em hotéis confortáveis, transportados em ônibus com ar condicionado, voando sempre de avião... Contratamos um tour com uma agência australiana chamada Geckos, especializada em uma espécie de "turismo de imersão", em que os hotéis são mais simples, visitamos locais que as agências de turismo regulares não costumam frequentar, temos muito contato com a população local e... utilizamos os transportes básicos locais!! E entre tuk tuks, riquixás, ônibus e jipes, estão também os trens... para nossa "alegria"!


Bom, nossa primeira experiência foi o percurso entre Nova Delhi e Varanasi, de aproximadamente 790 Km de distância. Toda confusão já começou na chegada à estação de trem, quando (pela primeira de inúmeras vezes) fomos "salvos" pelo nosso guia. Assim que descemos da van que nos levou ao terminal de trens, logo fomos abordados por vários indianos que perguntavam : "Estação de trem? Não é aqui não, é por ali...", diziam apontando para a direção oposta ao caminho que deveríamos seguir, com nossas malas e mochilas. Não sei se havia alguma intenção de violência, provavelmente seríamos guiados até alguma loja onde tentariam nos vender a mais diversa sorte de tralhas e quinquilharias, mas só pelo fato de nos darem uma informação errada, sem sequer termos pedido, já nos deixou com um pé atrás pelo resto da viagem. Como disse, nosso guia surgiu no meio da multidão e nos "resgatou".



A estação de trem é também mais uma "armadilha para turistas independentes", a começar pelas placas de orientação; as poucas que existem estão penduradas por fios de arame e estão escritas somente em sânscrito!! Sem o guia seria realmente impossível descobrir qual das dezenas de plataformas era a correta e perguntar para alguém já havíamos aprendido que não era uma boa ideia. Aliás, a sorte realmente sorri para alguns. Neste mesmo dia vimos um coreano, sozinho e com uma cara de desespero, olhando para a sua passagem e tentando decifrar qual a plataforma correta para seu embarque. Vocês devem imaginar a cara de felicidade dele ao ver aquele monte de estrangeiros chegando! Com a ajuda de Guru (nosso guia) ele conseguiu descobrir que seu trem ficava na plataforma ao lado, era só atravessar os trilhos... "Atravessar os trilhos?? Mas e essa passarela, não dá para ir por ela?", perguntou o incrédulo coreano, sem saber que a passarela é muito mais segura, mas não é a menor distância entre dois pontos em uma estação de trem indiana... "Dá, mas por que você vai usá-la? É só seguir por aqui!", respondeu Guru, apontando para os trilhos, sem entender a lógica oriental daquele perdido coreano... Depois de uma volta ao mundo você consegue entender como duas pessoas podem estar certas... estando erradas!!


Bom, voltando à nossa plataforma, não precisamos dizer que estava lotada de gente, certo? Pontualmente (sim, para sair o trem é extremamente pontual!) chegou nosso trem. Sabe aqueles trens indianos que vemos nos filmes? Então, era um desses! Caindo aos pedaços, com toda lataria de um azul enferrujado, era dividido em primeira, segunda e terceira classes. A terceira é a que vemos nas revistas da National Geographic, com pessoas entrando pelas janelas e se apertando em 6 ou 8 pessoas em bancos onde mal cabiam 2! Isso sem contar os que vão em pé. Como entramos logo, não deu para ver se foram passageiros no teto... Na segunda classe a única diferença é que as janelas não foram arrancadas e as pessoas não conseguem entrar por ela (a não ser as muito, muito magras!). A primeira, que era a nossa, era formada por vagões-leito, com ar condicionado e uns bancos formando beliches, que eram as camas, e tinham cerca de 1,75 metros... bom, essa é altura da Pati e 10 cm menor do que a minha! Resultado: o pouco sono que tive durante a viagem era constantemente interrompido pela cabeça de algum indiano colidindo com meus pés!


Mas não era só esse o único impedimento para um sono tranquilo. Primeiramente, a luz permanece o tempo todo acesa, por questão de segurança. Aliás, por questão de segurança, fomos orientados a :
- prender com cadeados nossas mochilas a alças próprias para isso, localizadas na parte de baixo das "camas" (os próprios indianos tomam essa precaução)
- fechar as cortinas durante a noite e cobrir-se, mesmo se estivesse calor, especialmente as mulheres. Nesse caso, explicou-nos Guru, era para evitar a cobiça dos homens indianos. Se eles não conseguem saber se é um homem ou uma mulher embaixo das cobertas, não ousam mexer... mas se vêem uma perna feminina exposta... Aliás, por este mesmo motivo, recomendavam às mulheres não irem desacompanhadas ao banheiro do trem durante a noite... Tranquilizador não?



Por falar em banheiro, este é um capítulo a parte... Seguindo o padrão asiático, o banheiro nada mais é que um buraco no chão do trem, com acesso direto aos trilhos! Mas não sei se por preguiça, urgência, deficiência visual ou simplesmente hábito, o buraco não era o alvo preferido dos dejetos líquidos ou sólidos... Mas ele era limpo ao longo do percurso, por 2 vezes em 14 horas!! Aqui também cabe uma curiosidade interessante. Logo após uma das paradas, surgiu, como um raio, um rapaz com uma vassoura, um pano molhado e um saquinho de lixo. Nossos pés foram rapidamente varridos e molhados, o lixo recolhido e ele desapareceu 15 segundos após. Mais 30 segundos se passaram e, tão rápido quanto o limpador, aparaceu o pesquisador! Sim, um papelzinho com uma pesquisa de satisfação a respeito da limpeza do trem nos era fornecido para preencher (bem rapidamente), enquanto o rapaz ficava monitorando a resposta... por via das dúvidas todos deram nota máxima, vai que ninguém mais limpasse o nosso lado por vingança contra uma nota baixa! Bom, todos deram 10 e nenhum limpador apareceu novamente nas 7 horas seguintes...


Mas mesmo com todo esse "esforço" do pessoal da limpeza, o trem é bem sujo e o motivo é o mesmo de sempre : o hábito arraigado na cultura local de atirar sujeira no chão. Nosso guia mesmo, bem mais habituado aos "hábitos ocidentais", amassou o pacote de papel onde vinham os lençóis e atirou no chão, bem no meio do corredor. Indignada, uma australiana que estava no nosso grupo o advertiu e recebeu como resposta : "Não se preocupe, alguma hora alguém passa e recolhe o papel".
Aliás, a palavra dentro de um trem indiano é essa : passar! O tempo todo, seja lá qual for o horário, você pode encontrar alguém passando pelo corredor, em alguns momentos até mesmo com congestionamento! Vendedores de chai (o chá com leite e canela que domina o país), de bugigangas, de jornais, de comida... Isso quando não resolvem tirar todo o atraso de conversa em frente à sua "cama"... ou cantar músicas tradicionais indianas e tocar violão, às 03 da manhã... Na verdade, a única coisa que não passa dentro do trem é o tempo!!
Foram 3 viagens de trem, nesses 15 dias por lá, e em cada uma tivemos um aprendizado diferente; acho até que se houvesse mais uma não sofreríamos tanto, já conhecendo as "manhas". De qualquer modo, foi uma experiência das mais diferentes que tivemos e que atendeu bem ao nosso objetivo de imersão na cultura local e nos ajudou a entender um pouco mais como vivem os habitantes deste país, diferente de tudo que conhecemos até hoje!